quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Pão por Deus...


Se um grupo de miúdos lhe bater à porta, a cantarolar “Bolinhos, Bolinhós, para mim para vós”, não estranhe. O dia 1 de novembro também é, por tradição, dia de lhes encher os sacos com guloseimas...

Bolinhos e bolinhós/Para mim e para vós./Para dar aos finados/Qu'estão mortos, enterrados./À porta da bela cruz/Truz! Truz! Truz!/ A senhora que está lá dentro/Assentada num banquinho./Faz favor de s'alevantar/P’ra vir dar um tostãozinho.”


1 de Novembro, Dia de Todos os Santos
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e Dia do Pão Por Deus,
tradição que evoca uma terrivel tragédia
ocorrida há 262 anos em Portugal
Na manhã de 1 de Novembro de 1755 - quando muitos fiéis já estavam nas igrejas para a Missa de Todos os Santos - a terra tremeu durante vários minutos no litoral português, Algarve e especialmente na cidade de Lisboa, derrubando edifícios e espalhando os destroços por toda a parte.
Minutos depois o rio cresceu pelas ruas da capital invadindo a baixa. Muitas pessoas que tinham fugido para as margens do Tejo com o objetivo de escapar aos edifícios que ruíam foram apanhadas pelas águas. Quando as ondas se retiraram ficaram os incêndios que queimaram o que restava.
Os habitantes perderam os haveres e as casas, muitas vidas foram destruídas e a miséria chegou a quase todos.
Pelas ruas da cidade vaguearam durante dias, semanas, meses… grupos de indigentes, entre os quais muitas crianças que para se alimentarem pediam o “Pão, por Deus”.
É essa memória que, ano após ano, as crianças portuguesas recriam indo de porta em porta com os seus sacos de pano, pedindo “pão por Deus” e recebendo em troca doces e frutos da época das mãos generosas dos habitantes, como há 262 anos.
Esta tradição nada tem que ver com o Halloween de origem americana um país nascido há 241 anos em 4 de julho de 1776, ou seja 21 anos depois da tragédia portuguesa.
O Halloween decorre na chamada noite dos “espíritos e das bruxas”, 31 de outubro, em que as casas e jardins são decoradas a propósito e as crianças mascaradas de bruxas, vampiros, espíritos, etc batem às portas dos vizinhos pedindo guloseimas com a frase “doces ou travessuras” e quando não os recebem pregam partidas, atirando nomeadamente ovos às janelas.
Nessa noite os adultos também se mascaram, organizando e participando em festas temáticas, no que se tornou num dos maiores negócios anuais não só nos EUA, mas um pouco por todo o mundo.
A tradição portuguesa de 1 de novembro, ainda muito enraizada em todo o país, sobretudo nas áreas rurais, não tem travessuras e evoca um momento de carência e a consequente solidariedade para com os mais necessitados na sequência de uma tragédia natural - na circunstância um terramoto - que por vezes se abate sobre os povos, como os incêndios florestais que tudo podem devorar, como este ano novamente em Portugal, tal como em 1755, muitas pessoas perderam a vida e outras ficaram sem nada, ficando inteiramente dependentes do que lhes está a ser oferecido como o “Pão por Deus” que, dia a dia, solidariamente lhes chega de todo o país!
Texto da autoria do compadre Nunes Forte. Fotos retiradas da Internet.

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