sábado, 17 de outubro de 2015

Vibora-Cornuda

Víbora-cornuda (Vipera latastei)
Desde pequeno que oiço histórias - a maior parte delas fantasiosas - acerca deste réptil (a víbora ou bíbaro como também é conhecido na região) o que me despertou um maior desejo de o fotografar. Desde 2013 que o procurava na Serra de São Mamede onde (desconfio) que tem uma população estável, pois os "avistamentos" são frequentes. No contacto que tive com algumas pessoas que mantinham um contacto próximo com o animal (algumas delas foram mordidas), o ódio pelo animal foi sempre o principal sentimento que exalava das suas incontáveis histórias. A maioria das pessoas com quem falei não hesita em afirmar que quando vê uma víbora as mata de imediato com receio de ser mordido ou que "ataquem o gado". Os mitos não deixam de ser curiosos: - " O parque (PN Serra de São Mamede) andou a soltar aí bicharada dessa"; " -As víboras quando vão beber água largam um veneno em cima de uma pedra" ; " Se te picam (morder, devia ser o correcto) vais desta para melhor"; " - Se te picam deves logo fazer um golpe na ferida ou um garrote na perna" .
Todos estes mitos são falsos ou exagerados (no caso de ser mortífera). Resultam de uma interpretação de populações que aprenderam a odiar a víbora. A víbora-cornuda é um animal perigoso, a sua mordedura é venenosa e pode causar algumas lesões (algumas permanentes na zona da mordedura) mas não é mortal (à excepção de crianças pequenas ou idosos com problemas cardíacos). Todos os anos (provavelmente dezenas - em Espanha estima-se 150) são mordidas pessoas em Portugal e (apesar de não ter registos) os casos de morte são extremamente raros. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, a víbora-cornuda não é um animal agressivo, é um animal tímido que passa na maioria das vezes despercebido pela sua excelente camuflagem ou porque prefere esconder-se. As mordeduras resultam normalmente de situações em que o animal se sente ameaçado ou acossado por quem as tenta matar ou por quem as pisa inadvertidamente. Eu, que tive o prazer de a fotografar de perto, nunca me senti ameaçado. O animal sempre teve uma postura bastante calma, sendo inclusive, de todos os répteis que já fotografei, o mais tranquilo e também o mais belo.
                                                                           - Ricardo Lourenço.

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